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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Corpo de PM que transmitiu morte pelo Facebook é sepultado: ‘Ficou muito sozinho’

O corpo do policial militar Douglas de Jesus Vieira, que transmitiu a própria morte ao vivo pelo Facebook, foi sepultado na tarde desta segunda-feira (30) no cemitério de Irajá, no Rio de Janeiro. Colegas de Douglas chegaram a fazer uma “vaquinha” para ter dinheiro para o sepultamento. No local, hoje, estiveram cerca de 150 pessoas, incluindo familiares, amigos e colegas.

Segundo o Extra, o clima era muito pesado no enterro e todos relacionavam a morte de Douglas com o atraso nos salários do PM de 28 anos. “Ele estava trabalhando em uma firma de segurança para conseguir mais dinheiro, o aluguel estava atrasado e ele tinha outras dívidas. Era só trabalho, só trabalho. Para piorar, a PM ainda o transferiu do 9º BPM (Rocha Miranda), que era do lado da casa dele, e o jogou para o 24º BPM (Queimados), lá na Baixada”, disse um amigo, que pediu para não ser identificado.

Além disso, Douglas estava separado da esposa e, por isso, mais afastado da filha pequena. A avó dele, com quem ele morava, morreu pouco depois. “Ele ficou muito sozinho, até as
postagens que fazia no Facebook falavam muito nisso”, acrescenta o amigo.

Douglas já havia sido internado quatro vezes na psiquiatria do Hospital Central da Polícia Militar. Da última vez, ele tentou se matar misturando medicamentos e bebidas. Nessa ocasião, ficou uma semana na ala psiquiátrica.

Os colegas do PM agradeceram nas redes sociais a ajuda para arrecadar dinheiro para o enterro, já que a corporação não ajuda em casos de suicídio. “Venho por meio desta agradecer a todos que participaram da campanha para auxílio financeiro da cerimônia fúnebre do Sd De jesus, chegamos com ajuda dos amigos ao valor para cobrir todas as despesas fúnebres (…) Juntos somos fortes”, postou um deles.

A PM informou através da assessoria que o convênio só dá cobertura aos policiais mortos ou acidentados em serviço.

Morte

No vídeo, Douglas avisa: “E aí, tranquilidade? Tamu junto. Quero ver quem tem disposição de ver o bagulho ao vivo. Quem não tem estômago, mete o pé. O bagulho vai ficar doido agora”. Em seguida, ele aponta a arma na cabeça e atira.


Nas imagens, não é possível ver o PM morto, já que o celular cai da mão dele. Durante a transmissão, enquanto Douglas falava, várias pessoas pediram que ele não cometesse o suicídio: “Douglas, para de bobeira” e “Pelo amor de Deus, Douglas” foram algumas da mensagens deixadas por amigos. O vídeo original não está mais disponível na página do policial, mas cópias circulam pelo Facebook e pelo YouTube.

De acordo com o jornal O Globo, Douglas era soldado do 24º Batalhão  de Polícia Militar (Queimados) e estava na corporação há seis anos. O policial passava por um processo de divórcio e, segundo familiares, estava muito triste e “reclamava de tudo”. Ele deixa uma filha de um ano.

A ex-mulher acredita que a falta de salário tenha contribuído para a morte de Douglas. “Ele tinha histórico de depressão, mas a gota d’água foi o atraso nos salários”, acredita Rayane dos Santos, 25. “Ele já tinha ameaçado se matar outras vezes. Ontem à noite me ligou, uns 20 minutos antes, dizendo o que ia fazer, mas não acreditei porque ele já tinha falado isso antes. Era um ótimo pai. Sempre pedia que eu só falasse bem dele para ela. Nossa filha dormiu com ele da noite de sexta para sábado. Busquei ela às 7h na casa dele e, à noite, ele se matou”, contou ela ao Extra.


Recentemente, o soldado havia feito nas redes sociais uma paródia da música “Deu Onda”, citando a crise no estado que dificulta o pagamento de diversas categorias, incluindo a Polícia Militar. “Eu preciso recebeeeer… As minhas contas vão vencer, Pezão (governador do Rio)”, diz o início da versão de Douglas. “O salário na conta me dá onda, você me pagando, Pezão, me dá onda”.

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